A Sociedade Martins Sarmento foi fundada em 1881 por um grupo de vimaranenses – Avelino Germano da Costa Freitas, Avelino da Silva Guimarães, José da Cunha Sampaio, Domingos Leite de Castro e Domingos José Ferreira Júnior – que, defendendo a importância da instrução e a disseminação da cultura como forma de elevação dos seus concidadãos, decidiu reunir energias e criar em Guimarães uma instituição que homenageasse Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento e, simultaneamente, que promovesse a instrução popular.

 

Martins Sarmento era uma personalidade muito admirada pelas suas qualidades cívicas e morais, mas, sobretudo, pelo trabalho científico pioneiro que desenvolvia no âmbito da Etnologia e da Arqueologia. Influenciado pelas grandes descobertas arqueológicas que se faziam na Itália, Grécia e Turquia, tentava desvendar o mistério das origens do povo português, procurando os vestígios da sua antiguidade.

É precisamente no contexto das suas prospeções arqueológicas que Martins Sarmento descobre as ruínas da Citânia de Briteiros, a cidade de pedra que tanto fascínio provocará mais tarde quer nos participantes do I Congresso de Arqueologia realizado em Portugal (1877), quer nos eruditos europeus do IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Históricas (1880). Ao colocar Guimarães no mapa-mundo das grandes descobertas arqueológicas do século XIX, Martins Sarmento concedeu o que Domingos Leite de Castro designou de “o seu primeiro momento de orgulho, o orgulho de se sentir parte do mundo civilizado.” A homenagem mais condigna já só poderia assumir a forma de uma instituição cultural, que funcionasse e perdurasse no tempo como um organismo vivo, ostentando o nome de Martins Sarmento.

Nos primeiros anos de vida, as preocupações da Sociedade Martins Sarmento centraram-se no problema da instrução popular, uma vez que a cidade “carecia absolutamente de instituições de instrução correspondentes à densidade da sua população, à atividade intelectual dos seus habitantes, ao seu regime económico.” Por isso, criou-se o Instituto Escolar, a Escola de Renda, a Escola de Instrução Militar, a Escola Colonial, os Cursos Noturnos, os Cursos de Línguas Estrangeiras, o Curso Elementar de Canto e Princípios de Música, tudo dinamizado com a atribuição anual de prémios de mérito escolar na festa do 9 de março, reivindicando-se ainda uma escola industrial, a Escola Industrial Francisco de Holanda, e o futuro Liceu de Guimarães. A par da Biblioteca da SMS, que rapidamente se enriqueceu graças ao grande número de doações e legados, acolheu e dirigiu também a Biblioteca Pública Municipal e o Arquivo Municipal.

Uma nova linha de ação, mais direcionada para a divulgação científica e defesa do património histórico-arqueológico do concelho, desenvolveu-se com a publicação da Revista de Guimarães, a constituição dos museus Arqueológico e Numismático, Industrial, Colonial, Regional ou de Arte Sacra, de Arte e Etnografia, posteriormente unificados sob a designação de Museu de Martins Sarmento, a musealização da Citânia de Briteiros e a aquisição de monumentos e terrenos para os estudos arqueológicos. Promoveu, envolveu-se inteiramente e manifestou-se de forma clara e objetiva em favor de tantas causas importantes, tais como o destino da Capela do extinto Convento de Santa Clara, a conservação do castelo e da muralha da cidade, o restauro da Igreja e do claustro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, a salvaguarda dos arquivos paroquiais, a proteção da Citânia de Briteiros e do Castro de Sabroso.

Mais de 130 anos passados desde a sua fundação, a Sociedade Martins Sarmento não se transformou numa instituição obsoleta, não se esvaziou de utilidade, propósito e ação. Confrontada com os novos desafios da contemporaneidade, toda ela é um pensamento vivo e um princípio de mudança, atuante em todos os domínios do conhecimento humano. Lendo as páginas da sua história, reconhece-se o alto merecimento desta associação e na sua força e fulgor perdura ainda a memória da geração imorredoura de Francisco Martins Sarmento e José da Cunha Sampaio, dos ilustres fundadores da instituição e seus beneméritos protetores, e do amor incondicional que todos nutriam pela sua terra, a sua gente e a sua Sociedade.