1920px-0_Soc_Martins_Sarmento_IMG_2453

O Museu Martins Sarmento

A partir de 1880, Francisco Martins Sarmento tornou-se um arqueólogo reconhecido no seu país e no estrangeiro, e, simultaneamente, o detentor de uma importante coleção de artefactos arqueológicos, reunidos no âmbito das suas escavações na Citânia de Briteiros e no Castro de Sabroso, mas também das prospeções que realizara em diversas localidades do país.

Vivendo-se precisamente numa época que propiciava a criação de associações para a defesa e proteção do património cultural, e de museus que eram encarados como um poderoso instrumento de ensino, surge, em 1884, no contexto de uma conferência sobre o património edificado de Guimarães, proferida pelo historiador de arte Joaquim de Vasconcelos, a ideia da criação de um museu no claustro do Mosteiro de S. Domingos, onde se depositassem “as preciosidades arqueológicas” do concelho.

A sugestão de imediato deu origem ao projeto e na reunião da Direção de 4 de maio de 1884 deliberou-se criar na casa da Sociedade um “depósito de objectos arqueológicos, que possam obter-se por empréstimo ou aquisição definitiva”. A coordenação do mesmo ficou a cargo de Martins Sarmento, coadjuvado pelo padre João Gomes de Oliveira Guimarães e António Ferreira Caldas.

Dado o volume das doações, o depósito de objetos arqueológicos logo deu origem ao Museu Arqueológico e Numismático, inaugurado a 9 de março de 1885. O seu acervo incluía “muitas e verdadeiras preciosidades” em ambas as secções, provenientes de diversas zonas do país e do estrangeiro: a coleção de numismática, organizada pelo Dr. José de Freitas Costa, compreendia mais de mil exemplares de moedas (700 portuguesas, 160 de outras nações, 160 romanas, 2 celtiberas, 4 visigodas, entre outras) e mais de cem medalhas raras; a coleção de arqueologia, dirigida por Martins Sarmento e o padre João Gomes de Oliveira Guimarães, integrava inúmeros utensílios de pedra, bronze e ferro, peças de ourivesaria, cerâmicas, pedras ornamentadas, aras com inscrições latinas e esculturas. Ocupando já o Mosteiro de S. Domingos, as coleções do Museu Arqueológico e Numismático foram distribuídas pelo claustro e a galeria envidraçada que o sobrepunha.

Com o passar dos anos, este núcleo de peças foi sendo enriquecido com sucessivas incorporações, resultantes de doações e legados de particulares, mas também da investigação arqueológica que continuou a ser desenvolvida. Surgiram também novas coleções que, por sua vez, deram origem a novos pequenos museus (industrial, colonial, regional, arte sacra, arte e etnografia), unificados, a partir de 1937, sob a designação de “Museu Martins Sarmento”.

A visita ao Museu Martins Sarmento é, por isso, uma experiência muito especial. Por se tratar de um museu histórico, o visitante tem a possibilidade de observar e de se sentir parte das várias épocas que atravessou, e de conviver com os homens que o conceberam e desenvolveram em benefício de uma nova sociedade de indivíduos plenamente conscientes das suas potencialidades pessoais. É a sua mentalidade, os seus valores, crenças e ambições que vemos refletidos no edifício projetado por Marques da Silva, mas sobretudo na sua exposição permanente de peças arqueológicas que, por ser uma memória das conceções e práticas museológicas da segunda metade do século XIX, não deixa de ser uma novidade e uma surpresa no século XXI.